sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A espera


Tão certo essa espera de algo que parece nunca mais chegar. Seja a semana toda ao aguardo pelo fim de semana, ou, ainda, a espera de um regime que nunca começa nas segundas-feiras.  A incansável espera pelo carnaval, natal ou para o ano novo, com aquelas promessas mirabolantes que, com certeza, dariam uma reviravolta na vida de qualquer um, se as pessoas, simplesmente, as cumprissem.

A espera por passar no vestibular;  por começar um curso, mesmo que esse seja um tapa na cara do cidadão que esperava se livrar de alguns tipos de pessoas, e mal se sabe que todos, maduros e imaturos, podem cursar uma faculdade.

Esperar o almoço ficar pronto, esperar o sinal do intervalo, aquele nervoso dos cinco segundos de silêncio daquele que deveria responder “Sim” a um pedido de namoro.  Esperar uma ligação pra uma entrevista de emprego, a pizza que demoraria trinte minutos pra chegar mas já se passaram quarenta. Esperar com que a vida passe e que se amadureça.

Mas, a incerteza da resposta é a pior espera que se tem. Esperar o talvez vão, é deixar com que corroa as esperanças, como traças corroendo sua casa, corroendo sua segurança. É esperar a surpresa, nessa quebra de tautologia. É não saber se senta esperando ou se abre a janela e saia da caverna da esperança.

domingo, 11 de novembro de 2012

A fotografia


Era o verde da grama contrastado com o cinza de uma chuva que não veio. Mais adiante, uma fonte jorrava, de vários cantos, uma água que trazia a mim um nítido arco-íris, para completar as cores ausentes no dia. Dentre as pessoas que faziam figuração a um dia tão acinzentado quanto o céu,  uma sensação de paz se acerca: Quanto dura um instante perpetuado na retina?

Entreguei-me, ainda que de longe, a sensação de um florescer, sentido e quase tocado naquela energia. Não me contive e quebrei todos os tipos de distâncias existentes entre um passo e outro. Em minha pequenez, apenas dispus, em um único adjetivo, tudo o que quis dizer sobre ela e, assim, essa minha sensação teve o ego todo arco-íris provido de um sorriso recebido como resposta, que guardo na memória dos meus eternizados momentos: Quanto dura essa leveza de ser que uma espontaneidade estimulou a me fazer sentir?

Agora, tenho em mim os abraços guardados na íris e o sorriso dela guardado no meu. Exponho-os nos meus olhares e no meu riso, mas não os deixo que se desfaçam assim como se desfaz o ato de viver um momento, mostro-os para que saibam que, também, deixei que a paz viva em mim!


sábado, 3 de novembro de 2012

... Dor pungente!


                Sempre lidei melhor com a distância do que com a aproximação, melhor com a saudade do que com a rotina. Sempre consegui planejar mais do que fazer e fazer sempre sem planejar. Talvez os planos sejam exatamente para não serem cumpridos e as idealizações para serem desiludidas.
                Mas quando se tem em mente algo e esse algo vai além do imaginado, não se forma desilusão, se forma saudade! Sempre pensei que a saudade nos fosse matando aos poucos, mas hoje acredito que é ela que nos leva adiante.
                Mesmo que a saudade seja da infância, quando tínhamos uma avó que nos trazia doces, nos enchia de mimos e nos dava um beijo na testa com aquele batom vermelho que custava a sair. Ou saudade das brincadeiras no quintal, de apanhar dos irmãos mais velhos ou de roubar os brinquedos deles. Até mesmo a singela saudade de ter tempo para deitar na calçada e ver os formatos das nuvens, rindo, mesmo que sozinhos.
                Mas a saudade de algo que aconteceu e acontecerá de novo, me encanta! Encanta como se encanta uma criança com as borboletas, com o gato subindo pela parede ou com o balão que voa para o céu, para nunca mais. Admiro como uma menina diante da primavera, pois os dias, então, se tornam primaveris.
                Saudade é algo além. É uma lembrança que passa e repassa como um filme antigo. Saudade é uma dor que ocupa todas as partes do seu corpo, desde os olhos cheios de lágrimas até o sorriso bobo que você expressa sem perceber! Saudade é mais do que tudo isso, saudade é saber que não foi vão.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Não me venha falar de amor!



Enquanto estudava, olhou para o lado, da sua janela via a cidade correndo. Era fim de tarde, começo de noite, e tudo o que viu foi uma mulher andando de cabeça baixa, como se o dia tivesse sido árduo. E Ana tinha certeza do quão árduo o fora, e tinha sido todos esses que se sucederam depois daquela noite em que tudo podia. Ana sentia o contraste do tudo com o nada.

Quanto o que ocorrera naquela noite, não é relevante. Apenas importa saber que foi um dia que se finalizou bem, com um cobertor a cobrindo num sono profundo, resultante de um dia perfeito. E agora? Agora se via passar nas ruas, cabisbaixa.

Em um desespero, tocou a mesa para sentir o gelado do granito, será que estava realmente viva? Ana se perdeu! Queria morrer para nascer e se sentir viva, e remorrer para renascer e se sentir bem, e mais uma vez, e outra vez mais; para, assim, formar um ciclo de algo que se tornasse interessante.

Não, Ana! A vida é algo submisso, submerso. Nada pode! Nada vem! E não me venha, menina, me falar de amor. Seu poder vem de uma paixão carregada pelo carteiro, viajando pelas ruas, pela confusão de casas. E não venha, menina, me falar de amor,você não sabe amar e se perde em solidão!

domingo, 19 de agosto de 2012

Noite de domingo


Nada mais simples do que as palavras ditas no imperativo: Ame! Esqueça! Siga em frente! Não se importe! Pare! Continue! ... Nada mais simples do que uma risada amarela quando sua dor é maior do que a dor de quem te ouve. E então, você percebe que sempre foi um tipo de psicólogo não pago, não retribuído, que fez mais do que os imperativos, e ainda assim, cá está: mais uma vez sozinho.

Acredito que esse seja o começo, o fim, e uma boa parte do tempo em que se vive: na solidão. E não essa solidão de sair do quarto e não ver ninguém; quero dizer dessa solidão de sair do quarto e esbarrar em quatro, cinco, seis pessoas que conversam aleatoriamente, e tudo o que você implora é por um silêncio que não te consuma!

Não quero ligar e ouvir risadas do outro lado, quero ligar e ouvir: “Ei, estou com saudades, quando vem me ver?”; não quero desculpas alheias, nem por álcool demais, ou por álcool de menos. Quero palavras que me reconfortem  quando eu não tiver meu peito pra me recostar numa noite de domingo, e esperar que o dia seguinte, simplesmente, venha.

E o dia seguinte vem, quem não vem são eles, e eu também não vou! E eu luto comigo mesma para que eu nunca mais vá... E nesse momento, a minha decisão é de não ir! 

sábado, 4 de agosto de 2012

Vá!


Entregue-se, menina!
Entregue-se às metáforas!
Todos gostam de comparações subjetivas,
De palavras diferentes, de se sentir apto a interpretar o que nos é amplo!
Entregue-se aos dias que, lentamente, viram noite...
Às pessoas, mesmo que essas te machuquem...
Entregue-se a tudo o que é novo,
Ao que dá medo, àquilo que te faz sentir algo gelado na barriga...
Menina, o mundo é grande, você tão pequena...
Faça grande, sua pequenez!
Faça jus ao seu pulsar...
Entregue-se, como diz G.H, como um sonâmbulo que simplesmente vai!
Vá!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Diante ao novo


                Sento, debruço-me na mesa em frente ao notebook e as palavras saem de mim, como uma ideia antiga que parece não mudar. Ou muda! Não sei... A ideia é a mesma, mas o modo que eu a vejo já não é tão antiga assim. Quero dizer, cada dia eu a vejo diferente! Na verdade, o que eu estou tentando dizer, e... Eu mesma! Em primeira pessoa do singular! Hoje falo por mim, não invento, mas... Chega de divagação! O que eu estou tentando dizer é que, apesar de sempre ver  um mesmo fato, sentimento ou ideia, de uma mesma maneira, o fato, o sentimento e a ideia são os mesmos. Resumindo: O novo me incomoda!

                Ah, meu Deus, e agora? Quer dizer que viverei em um passado para sempre? Não. É  ilógico. Divaguei até agora para dizer que, apesar do meu medo do novo, eu estou aqui: debruçada na mesa diante ao computador, no entanto, com meu peito aberto para o que é novo. Digo, não é só porque tenho sentimentos bons pelo passado, que eu vá me prender a ele; e nem porque estou aberta para o que há de vir, eu hei de limitar o amor que ainda sinto.

                Estou aberta a pessoas que me façam bem e que respeitem aqueles que  já me faziam antes, e ainda fazem, e vão fazer. Estou aberta, completamente nua de medos, e essa minha nudez está coberta de esperança e sonhos. Sou livre e me vejo livre para novas coisas com pessoas que a mim pertencem há muito tempo, e sou livre, mas não tanto, para conhecer pessoas.

                O novo me incomoda, porque quem tem vindo por último, tem me mostrado um tipo de mundo que eu não vivo, que eu bloqueio. E tem me mostrado um tipo de pessoa que eu não quero, que eu não gosto, e que me fecho.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Uma prece

Emudeço-me, pois por vezes as vozes dos que não sabem quem sou, dizem por mim. E dizem de mim o que eles realmente sabem: nada! Distorcem, mentem, corroem a mente de quem ainda quer bem. Creio que não seja vão, acredito no porquê, e esse, para mim, é único: machucar, mentir, destruir. E o fazem com essas palavras que não afetam o físico. Mas me afetam. Não porque me importo, mas porque me importo com quem se importa com  o vulgo verdade. Como quem diz que o sinal está fechado e pode atravessar, mas ali não há semáforo. Para mim, quem fala não é ninguém!

Remoo, destroço e corroo todo o sentimento impulsivo que me dá de raiva, e a vontade estúpida de me levantar, abrir a porta, descer andares, caminhar pela avenida, subir um morro, virar umas esquinas, e dizer, relutando contra a minha força, que se for se intrometer, que ao menos diga a verdade. Que pode até doer, mas não dói em vão!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

[...]

Agora eu sei o que se faz quando o sonho projeta vida no real, e faz balança do que é viver e o que se pensava que fosse. Sei que não há pote de ouro no fim do arco-íris, mas que o caminho é tão bonito entre as cores, que faz delírios ao neutro. Sei dos sonhos, das flores, dos medos... E sei que não há sonhos sem medo de que as flores murchem e terminem com a primavera... Há em mim, algo primaveril, em que nem o medo faz as rosas cessarem! E aqui, disposta a mim, dispo-me do mundo externo, sou toda construída, imaginada!

Não nomeio mais nada, sinto! E sinto porque não há modo mais intenso de se viver. Sinto o essencial aqui tão perto, aqui tão meu! Desconheço palavras, gestos ou expressões pra dizer que, enfim, me acerco bem! Em paz com a realidade!

Entrelaço nossos dedos, e já não me tenho mais! Nos cruzamos, me perco e, por fim, sou sua.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Ao novo

Essa manhã, Ana não acordou se sentindo muito bem. Seu mundo girava! Parecia que a noite anterior se agregou com a manhã, remetendo não haver o intervalo do sono. As idéias, pensamentos aleatórios, e aquele sentimento que remoia há meses, ainda estavam ali. Desse modo, Ana sentia que, desde o início desse sentimento, não houvera intervalo para outra coisa a não ser senti-lo. Remoia. Replanejava o passado, se afundava em uma lama. O que sentia era uma areia movediça. Não a deixava seguir em frente, não a deixava em paz!

Atordoada, presa em si e ao mundo que criou em torno daquilo que não era saudade, não era amor e nem carinho, mas algo, uma mistura de perca com posse, Ana relutou. Exausta de si, lavou o rosto como se a água penetrasse os seus poros e os renovasse. Ela sentia que o novo precisava vir. Mas o apego ao que sentia, e não exatamente pela pessoa, não a deixava seguir. Rasgar as fotos, as cartas, removê-la do seu mundo, nada ajudava.

Desceu correndo as escadas do prédio como se o mundo fosse absorvê-la, e correr lhe dava a impressão de liberdade! Ah! A liberdade que Ana tanto procurava. Seria simples se ela simplificasse. Por que não? Por que Ana não conseguia, simplesmente, deixar de lado os dogmas, o passado, o já feito? Por que ela não consegue viver o presente? O instante?

Na rua, frente à multidão que passa, grita, silencia, corre, anda, rasteja; Ana era quem parava! Permaneceu intacta observando o que prende e o que liberta aos outros. Sentiu uma gota de chuva pingar no seu ombro desnudo, e percorrer até seu dedo indicador, e cair no chão: Naquele momento, Ana sentia que o novo estava vindo, e que era livre.