segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Na calçada

Ana era, agora, uma menina perdida no meio fio. Não sabia se locomover mais do que entre uma ponta a outra do quarteirão. Sentada na calçada, via os carros passarem... Alguns corriam, Ana subentendia que eles estavam fugindo... Mas para onde? De quem? De quê? Ana também queria fugir... Dernorteada, presa a algo que estava em sua cabeça, a uma idéia fixa: enlouqueceu. Não adiantava mais as lágrimas, a angústia não a contrapunha de lugar algum. O medo da escuridão não a atormentava mais. Ou melhor, atormentava, mas amenizava o desespero.

Ana era, agora, o desespero. Representada pelas unhas por fazer e pelas olheiras de dias a fio que passara vendo os carros. A vontade de subir em um daqueles e deixá-lo que a levasse, era imensa... Queria que a levasse para longe... Para sempre!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Edifico-me

Meus olhos, aflorados em vermelhidão, observam o cair da noite. Outrora, quando minhas mãos rasbicavam palavras aleatórias, era ainda dia: já anoiteceu. Vi o céu escurecer e a lua se embebedar de brilho. A agonia me toma conta de forma acolhedora, como um braço que se estende, me puxando ao peito para me encostar. Já encostada, retenho-me na metáfora, e perco a paixão nas coisas... Essa lua brilhante, não contém luz própria. A teoria mescla a minha angústia, e tudo junto não me fazem ser nada!

E se me perco em pensamentos e em quase acertos, é porque busco em mim o que pudesse ser bom ao outro; mas quando o outro se perde em si com os olhos cinzentos, cegos de um não querer ver, se torna tudo inviável. E se o fim for o certo, ou se ao certo será o fim: quantas angústias se poderão chorar? Se poderão reter? Se poderão amar? Se nem mesmo o amor se basta; e se sem o amor não há nada - nem o começo, nem o fim.

Desmorona, enfim, o meu castelo de cartas, que construi com o cuidado de sê-lo alto, bonito, mas na ilusão de que, também, se firmaria. O vento falou por todos; em deslizes reteve as cartas, colocou-as na caixa, pôs no bolso, e foi-se embora.

Posso eu reconstruir o meu castelo?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Angústia

Aqui de cima vejo pessoas pequenas, com sentimentos pequenos, retidos em si. A correria e a calma; a tristeza, a alegria e a indiferença; o desamor, o amor, o que pensam ser amor; o medo, a coragem, a autodestruição. Aqui de cima, eu vejo, quase vejo, pressuponho, subentendo, imagino, invento, reinvento, me iludo. Aqui, o azul é distante, e quase totalmente repleto, se não fosse o opaco dos prédios.

O que outrora foi euforia, durante a separação do “outra” e do “hora”, no agora, essa euforia foi se afinando intensamente até voltar a ser angústia. Não se sabe de que, de quando, de onde, de por que. Sabe-se que existe, pulsa, realça em cores vivas, intensas, que sobressai pela pele, pelos gestos, pelo toque. Sabe que penetra intensamente ao outro, como miados de gatos recém-nascidos, que imploram por comida.

sábado, 25 de junho de 2011

Por Quinta.

E tudo o que eu posso dizer, não será dito! Não pela simples imaturidade das experiências, ou dos sentimentos, mas pela ausência de palavras que se fariam suficientes para expressar o que eu poderia dizer! O clichê chega, bate a porta, e torna-se comum: É a falta de boas palavras. No mais, prefiro o silêncio que diz que quero bem, do que o pressuposto de uma sabedoria vã, e repassada nas sarjetas das ruas que cruzam nossos e outros caminhos.

Ah! Se pudesse dizer como me sinto quando me sinto... Porque, por vezes, só sinto você!

domingo, 12 de junho de 2011

Meu mundo contraditório

... Quem dera se eu pudesse tocar as nuvens, e senti-las algodão! No meu mundo, assim, a aparência fofa delas no céu, não seria apenas algo que se perde por entre os dedos. O que parece seria, e seria tudo o que parece! Não por si só, mas por só e por fim. Na finalidade, não pela realidade utópica que se cria ao redor de uma verdade mística e irreal! Por mais que esse mundo de algodão seja inventado, não sairá dos meus sonhos... Incompatível é trazer a irrealidade para o mundo concreto de sonhos limitados!

No meu mundo, não serei quem sou, porque me dói. Serei o outro, o que me vê, o que me julga! Serei quem, friamente, fura meus olhos e acerta minhas costas. Rirei dos defeitos dessa que lhes escreve, como se não os tivesse, também! Amaldiçoarei os sonhos, arranjarei defeitos, e assim, entenderei a graça de me desgraçar!

E quando, por fim, consegui voltar ao mundo real de pessoas com atitudes desinteressantes e fatos estúpidos, entenderei o por que: por que engraçado menosprezar quem lhe quer bem; por que é importante julgar os outros; por que, por fim, não pode usar da simpatia para conquistar pessoas e tem que se reservar em mundo pequeno e intocável.

sábado, 11 de junho de 2011

Tempo verbal

Estive pensando no sonho profundo,
eliminando partes do todo, do mundo!
Onde estão, então, aqueles, aquelas,
e os outros pronomes, definidos ou não?
Estão parados, cansados... Esperando a quem?
Esperando o quê? Esperando onde?
Esperando a morte? Esperando a sorte?
Então quem? Então quando? Então, por quê?
Porquê?
Acreditam no passado que modificaram,
No futuro que criaram, no presente que não existe!
Não convém existir, porque a realidade dói,
Porque o medo vence, porque o sonho tece!
Então falamos! Quem fala? Para quem fala? De quem fala?
Eu falo; para quem quer ouvir, ou finge ouvir;
e falo do passado inventado e do futuro criado.
E o presente? Esse não convém existir!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Eu sei

Eu sei! Sempre contrapondo o tudo com o nada, o fim com o começo. E, no entanto, não há o que se encaixa, ou que se contraponha. Eu sei. Não era nada além daquilo, um riso bobo, uma falsidade no falar, uma angústia no peito. Eu sei. Tudo aquilo era o que poderia ser: Um quase alguém, na felicidade de quem aprendeu a conviver consigo, inventando as histórias de um mundo utópico. É fantasia, é brincadeira. Mas toma como verdade absoluta de um tempo inexistente: O agora. E agora?

Eu sei. Não é ninguém. É o vento que bate na janela, que te impede de sair. Eu sei, é a árvore balançando, fazendo cair folhas e mais folhas, depois seca e caem os galhos e o tronco. Eu sei. É o vazio das palavras que deixa ficar apenas uma tristeza leve, que não se vai junto ao vento e fica preso nas folhas da árvore, depois cai, mas nunca morre.

É! Eu sei. Mas quase que não sei nada, e vou levando a vida, como se caminhasse na estrada de mão dupla, não se fico, se volto, ou se vou. Não sei se olho as ruas, a lua ou o sol. Mas eu sei que aqui estou, e fora a isso, já não posso saber tanta coisa.

domingo, 13 de março de 2011

Brilho das estrelas

Teve medo, apoiou a cabeça na parede enquanto seus olhos se perdiam pelo escuro da noite. Fingia que não enxergava as luzes acesas, fingia que não enxergava o medo de continuar. Entretinha-se na angustia, se perdia no vazio e nunca mais se encontrou.

Acendeu seu cigarro, retomou suas preces, quase pode sentir uma pontinha de esperança, no entanto, essa que quase teve vida foi destruída pelo fogo do cigarro aceso, queimado, estraçalhado, como simples ilusão.

Encostou a palma da mão toda no chão, levantou-se, olhou o tanto quanto poderia enxergar das estrelas, mas as nuvens sempre vinham cobrir o brilho que elas traziam.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Casal ideal

Quando nova não estudava direito. Sentava no fundo da sala de aula, cantava todos os meninos que jogavam giz nos ‘”CDF’s”, e ignorava os professores. Era a mais cobiçada entre a galera que colava, e o maior motivo de riso entre a turma dos excluídos e a dos inteligentes.

No ensino médio, ainda no fundão, se apaixonou por um dos seus, começaram a namorar até o fim do terceiro ano, depois se casaram.

Ele começou a trabalhar como ajudante de pedreiro durante o dia, e pela noite roubava os materiais de construção de onde estava trabalhando; ela cuidava dos gêmeos, e se mantinha firme com o menino que estava por vir.

Hoje, ele é pastor de uma igreja e anda com uma Mercedes pregando a bíblia, e ela é a esposa perfeita, mãe ideal, um exemplo a ser seguido.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pudera eu..

... Gostaria das minhas melhores palavras
E do meu melhor momento, para uni-los
Em um ritmo, um segmento
Que deixasse óbvio e objetivo:
Que dos meus sonhos, o mais bonito
É conseguir ser e suprir
Tudo o que te falta para sorrir!

... Pudera eu viver sem agonia,
Nesse mundo que contrai
A beleza de cada euforia;
E, com o peito aberto, sem mais medo,
Sair desse meu mundo coberto,
E dizer que ainda nos é cedo!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Satisfação

Também, eu, estive farta:
Antes, a fartura do que era comedido,
Ainda agora, estou farta do que me é cômodo.
Do que me é tido como verdade,
Como rotina, preso na retina...
Solto na saudade!

Também estou farta:
Do que é sóbrio, do que é certo.
Do que é tido como errado,
De como erram, como buscam,
Como não buscam, de como é calmo.

Estou farta, na fartura de momentos Ford,
Da loucura do que terno, do constante.
Da insanidade do que é sensato,
Da sanidade do que é errôneo...
Ainda busco minha própria loucura!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tudo novo, de novo!

Sabia que a manhã seria a mesma de todos os dias que prosseguiam, mas um dia, assim como sempre fora, a dor cessaria, o medo acabaria, a desilusão se iludiria novamente; e tudo voltaria ao normal. Ela se apaixonará em outro tempo, se encantará, e com o passar do relacionamento se esgotará (se houver relacionamento).

Essa era Ana. A mulher que morria e nascia da solidão, do medo, da angustia, do desespero, do amor, da paixão, da vida. A vida que levava, que trazia, que recolhia seus pedaços, juntava, quebrava-os, desmontava, unia. E nada poderia fazê-los constantes... A constância de Ana era a inconstância que lhe dava vida, novas vidas.

Ana, hoje abriu os olhos, levantou da cama, e soube que o dia seria diferente. Por hoje, Ana não morria... Ana nascia! Nascia Ana, e nascia em Ana a esperança de um amanhã, de um talvez amanhã.