segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Constelação particular


Chove. Não que a chuva faça de mim, um alguém mais emotivo e saudosista. Só listo que chove, porque, sou só eu, minhas lembranças e um barulho delicioso que compenetra meus ouvidos, e me deixa tranquila para sermos apenas nós três.

A chuva, que aos poucos vai aumentando e embalando um ritmo, me deixa a vontade para retratar um fato que me ocorreu quando eu ainda era muito criança. Meu tio ainda era solteiro, morava com meus avôs, e, sem sombra de dúvidas, era o meu porto seguro (não que eu precisasse ser segura de alguma coisa, talvez só de mim mesma). Enfim, em um desses dias que a gente vai visitar a vó, lembro-me de um sorriso esboçado pelo meu tio, que me pegou pelo braço, naquela tarde, e me disse: “Camila, vou te mostrar as estrelas”. Eu, sem entender, e logo sem também enxergar, já que ele tampou com só uma mão os meus olhos, me levando para o quarto em que ele dormia, e ali, quando me deixou enxergar, as luzes apagadas, a janela fechada, que faziam um quarto mais escuro, só pude ver um brilho que vinha de alguns colantes, em de forma estrelas e lua, no guarda roupa.

Confesso, me encantei! Talvez com o brilho que os colantes refletiam, talvez com as estrelas que eu me tinha tão perto. Mas, acredito, que o meu maior encanto foi com o encanto que ele teve de me mostrar a sua constelação particular!

Hoje, ele é casado, tem filhos e talvez não tenha mais tempo para seus sobrinhos, para as estrelas e nem para os desenhos animados. E eu, já não sou mais tão criança, já não moro mais com meus pais, não o chamo mais de “tio” e, talvez, eu nem tenha mais tempo de observar o céu.  Mas, de tudo, a certeza de que, assim como ele, naquele momento, encantava a uma criança com algo bonito, a minha alma se sente tão menina por ainda me encantar com as coisas singelas e brilhantes. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O findar


                Ana se sentia inquieta diante daquele relógio preso na sua parede, que parecia movimentar-se, e, ao mesmo tempo, as horas pareciam sempre iguais. Os dias eram miméticos aos que já passaram, os medos, os segredos, o passado, todos eram sempre os mesmos. Talvez fosse isso o que mais incomodasse Ana: A não interferência do presente no passado – como se ela tivesse parado de fazer história em sua história! As pessoas foram se retirando de sua vida, com um caminhar leve, saindo à francesa, percorrendo suas via crúcis, enquanto Ana tampouco enxergava a cruz!

                Não era exatamente solidão, era estar estagnada de medo diante de um mundo novo que estava por conhecer. Já não era mais uma menina, era uma mulher! O mundo havia posto conceitos em seu modo de pensar e, de repente, ela era posta diante de algo tão novo e tão antigo quanto a sua própria imagem, seu próprio futuro: seu presente.

                Ana não queria estar ali diante do relógio, presa a rotina que consumia seus dias. Queria viver, ver, sobreviver os mares, lugares, mas Ana sabia que querer é algo que ia além do seu desejar, e, muitas vezes, era esperar que o relógio findasse horas para que, enfim, pudesse percorrer lugares.