quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O findar


                Ana se sentia inquieta diante daquele relógio preso na sua parede, que parecia movimentar-se, e, ao mesmo tempo, as horas pareciam sempre iguais. Os dias eram miméticos aos que já passaram, os medos, os segredos, o passado, todos eram sempre os mesmos. Talvez fosse isso o que mais incomodasse Ana: A não interferência do presente no passado – como se ela tivesse parado de fazer história em sua história! As pessoas foram se retirando de sua vida, com um caminhar leve, saindo à francesa, percorrendo suas via crúcis, enquanto Ana tampouco enxergava a cruz!

                Não era exatamente solidão, era estar estagnada de medo diante de um mundo novo que estava por conhecer. Já não era mais uma menina, era uma mulher! O mundo havia posto conceitos em seu modo de pensar e, de repente, ela era posta diante de algo tão novo e tão antigo quanto a sua própria imagem, seu próprio futuro: seu presente.

                Ana não queria estar ali diante do relógio, presa a rotina que consumia seus dias. Queria viver, ver, sobreviver os mares, lugares, mas Ana sabia que querer é algo que ia além do seu desejar, e, muitas vezes, era esperar que o relógio findasse horas para que, enfim, pudesse percorrer lugares.

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