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.. Ter um parente tão próximo, quanto seu vô, no hospital e
passar a tarde toda com ele, inclui que você verá sua família que há muito não
via, por mais próxima que seja, nesse momento. Isso quer dizer que você ouvirá
perguntas do tipo: “E os namorados?”... Na mosca! Não sei como eu seria mais
precisa do que isso!
_E os relacionamentos, Camila?
_Uai, tio! Você
quer aprovar algum namoro meu? Quer que eu te apresente alguém?
_Não... Eu não preciso conhecer! Você quem precisa, né!
_Ultimamente, tá difícil conhecer a gente mesmo, quiçá aos
outros, né, tio?
... Foi quase isso! Um tapa na cara, uma reflexão, um
momento em que eu poderia dizer e disse que o mais importante da nossa própria
vida é a gente próprio. O que não exclui os relacionamentos que virão, já que são precisos e importantes; tampouco os
relacionamentos já estáveis, de nós com os outros, independente do tipo.
Se eu pudesse dizer um pouco de mim, dispensaria meu nome,
signo, idade, quantidade de irmãos, condições financeiras, curso e estado
emocional. Aí eu não diria que me chamo Camila Meloni, tenho 21 anos, taurina,
dois irmãos, classe média e abalada com o que o destino prega. Eu apenas diria
que em mim tenho sonhos Claricianos e um fluxo de consciência que me faz sentir
única. Única para mim, que quase não me conheço e quase sempre me escondo em
euforias exageradas e tristezas sem motivo.
Diria que sou fascinada por palavras, elas me encantam.
Apaixono-me pela estrutura das orações, por colocações verbais e pronominais,
por verbos conjugados corretamente, mas, mais do que isso, gosto da poesia da
prosa e a do poema; e da subjetividade que me abre interpretações incríveis:
gosto mais do como se escreve do que o que se escreve. Mas, depois de dito, não
me venha com atitudes que fogem. As palavras me fascinam, me enganam por um
momento, mas um dia o conto acaba, a crônica termina, e, em mim, só fica o que
senti de mais profundo!
Mais do que isso, falaria que gosto de fazer sempre os
mesmos caminhos; bom, não é um gostar de adorar: Confesso, acomodei-me a eles,
do mesmo modo como me apego e me acomodo com a felicidade ou com a tristeza
(esta é reconfortante, por vezes). E, paradoxalmente, o sair da rotina me encanta,
a quebra de paralelismo, o entrar em metáforas, o mergulhar em antíteses. Lido
bem com a distância, quando ela une e separa; e suporto bem as saudades, quando
a vontade de mata-la é mutua. Gosto das noites de sono, de sonhos e do próprio
gostar. Sou carente e quero perto de mim sempre meus bons e velhos amigos, que
são lindos e meus, já que sou possessiva e ciumenta.
Sei que não quero do meu lado alguém que se ache melhor
porque tem na ponta da língua datas e respostas para contas matemáticas,
tampouco alguém que prolifere clichês e se acha “o intelectual”. Quero alguém
que una seus dedos com os meus, e deixe rentes nossos corações. Em verdade, não
sei exatamente o que eu quero. Não sei se quero me casar e ter filhos, se quero
morar em São Paulo ou no Rio, se vou fazer mestrado ou cursar outra faculdade,
não sei se vou passar a tarde no hospital, de novo, ou não. Não sei o que
farei, tampouco sei exatamente o que eu quero, mas sei com toda a certeza
daquilo que não quero.
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