sábado, 30 de março de 2013

Crônica de uma tarde de hospital!


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.. Ter um parente tão próximo, quanto seu vô, no hospital e passar a tarde toda com ele, inclui que você verá sua família que há muito não via, por mais próxima que seja, nesse momento. Isso quer dizer que você ouvirá perguntas do tipo: “E os namorados?”... Na mosca! Não sei como eu seria mais precisa do que isso!

_E os relacionamentos, Camila?
_Uai, tio! Você quer aprovar algum namoro meu? Quer que eu te apresente alguém?
_Não... Eu não preciso conhecer! Você quem precisa, né!
_Ultimamente, tá difícil conhecer a gente mesmo, quiçá aos outros, né, tio?

... Foi quase isso! Um tapa na cara, uma reflexão, um momento em que eu poderia dizer e disse que o mais importante da nossa própria vida é a gente próprio. O que não exclui os relacionamentos que virão,  já que são precisos e importantes; tampouco os relacionamentos já estáveis, de nós com os outros, independente do tipo.

Se eu pudesse dizer um pouco de mim, dispensaria meu nome, signo, idade, quantidade de irmãos, condições financeiras, curso e estado emocional. Aí eu não diria que me chamo Camila Meloni, tenho 21 anos, taurina, dois irmãos, classe média e abalada com o que o destino prega. Eu apenas diria que em mim tenho sonhos Claricianos e um fluxo de consciência que me faz sentir única. Única para mim, que quase não me conheço e quase sempre me escondo em euforias exageradas e tristezas sem motivo.

Diria que sou fascinada por palavras, elas me encantam. Apaixono-me pela estrutura das orações, por colocações verbais e pronominais, por verbos conjugados corretamente, mas, mais do que isso, gosto da poesia da prosa e a do poema; e da subjetividade que me abre interpretações incríveis: gosto mais do como se escreve do que o que se escreve. Mas, depois de dito, não me venha com atitudes que fogem. As palavras me fascinam, me enganam por um momento, mas um dia o conto acaba, a crônica termina, e, em mim, só fica o que senti de mais profundo!

Mais do que isso, falaria que gosto de fazer sempre os mesmos caminhos; bom, não é um gostar de adorar: Confesso, acomodei-me a eles, do mesmo modo como me apego e me acomodo com a felicidade ou com a tristeza (esta é reconfortante, por vezes). E, paradoxalmente, o sair da rotina me encanta, a quebra de paralelismo, o entrar em metáforas, o mergulhar em antíteses. Lido bem com a distância, quando ela une e separa; e suporto bem as saudades, quando a vontade de mata-la é mutua. Gosto das noites de sono, de sonhos e do próprio gostar. Sou carente e quero perto de mim sempre meus bons e velhos amigos, que são lindos e meus, já que sou possessiva e ciumenta.

Sei que não quero do meu lado alguém que se ache melhor porque tem na ponta da língua datas e respostas para contas matemáticas, tampouco alguém que prolifere clichês e se acha “o intelectual”. Quero alguém que una seus dedos com os meus, e deixe rentes nossos corações. Em verdade, não sei exatamente o que eu quero. Não sei se quero me casar e ter filhos, se quero morar em São Paulo ou no Rio, se vou fazer mestrado ou cursar outra faculdade, não sei se vou passar a tarde no hospital, de novo, ou não. Não sei o que farei, tampouco sei exatamente o que eu quero, mas sei com toda a certeza daquilo que não quero.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Doer-se

Era certo isso: não importava o que diria, mas como diria. Tanto faz se fosse com os olhos, com os gestos, com o silêncio ou com os verbos no subjuntivo ou indicativo, mas, que reconfortasse, redimisse, humilhasse o desapego e fizesse dele uma bobagem... Mas não! Deixou arder, remoer, rimar dores. Pobre! Pensava que se doía por alguém, se doía por si, se doía de um desespero de sentir gelar a ardência de um "por vir".

sábado, 23 de março de 2013

Busca


Encontrei-me, em algum momento, em versos ritmados.
A metrificação me sufocou, e deixei que passasse todo o poema
Para me buscar nos personagens de uma peça,
Nas falas de um teatro, mas tudo era máscara, era tudo encenação!
Despi-me do que encobria meu rosto e descobri meu eu na psicologia,
Induziram-me com um reforço negativo, prendi-me nas teorias, incluso a prática.
Então me pincelaram, perdi-me nas cores, nos desenhos,
Ao fim, acinzentei-me em uma simples caricatura.
Mergulhei, por fim, em uma melodia que me envolveu,
Mas, rente ao ritmo, perdeu-se o tom, perdeu-se a mim!
Agora sei que sempre estive na literatura,
No entanto, abandonei os poemas, fui para a prosa,
Mas carrego sempre em mim a poesia!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Entre isso e aquilo


"Eu sempre soube das escolhas eliminatórias que a vida nos impõe. Eu sempre soube que cada momento seria isso ou aquilo, e não os dois. Que a partir do momento que eu optasse em assinalar a letra A, a letra B, automaticamente, seria desconsiderada de vez da minha vida (por mais que fosse a alternativa certa, mas nunca saberemos – a vida é um teste avaliativo sem gabarito no final). Mas, na minha ilusão de menina, eu acreditei que se eu marcasse uma das letras a lápis, depois eu poderia apagar e escolher outra... Engano o meu! Sempre fica uma mancha, um borrão, uma marca desfocada do passado. E se me dizem que eu tenho que fazer escolhas que me deem futuro, eu digo que entre os tempos, eu escolho o presente, e sempre aderirei àquilo que me dê vários agora. Eu cuido do futuro quando ele chegar."