Ouvi dizer que era um equívoco; um nada; uma história mal contada por quem conta um conto por aí. Ouvi dizer que quem disse, dizia tanto que não falava quase nada, que eram palavras entretidas e contidas na retina de um velho que vagava... Que entretinha as palavras entre um silêncio e um olhar, entre o tempo do que foi e o que virá, entre o agora e o que se viu, entre o narrado e o que se ouviu...
Era um senhor que eu via sempre passar. Pelas escadas, pelas ruas, pelo tempo divagando, andando no tempo... Aspirava à arte que via na vida, e da vida via a arte; nas pessoas que jamais viria, ou que jamais voltaria a ver. Desde as paredes quase sem cor, com os chãos quase mortos, mas com o azul reluzente, reduzindo o acinzentado a um colorido estranho que continha entre os dedos.
Vi-o passar uma vez, e fora à última, confesso. A última vez que ele fez do chão o vermelho de si, e das paredes o reflexo do que vinha a ser. Eu andava contra e ele a favor do vento... Meu cabelo espalhado, e ele quase sem nada na cabeça, sentia um pequeno frio... E de todos os barulhos aflitivos que já ouvi, esse é o que ainda me angustia pela noite, pelo dia, pela calçada que me aspira melancolia...
Ouvi um disparo, um fim, o término de uma luta... Ouvi calar-se a voz que dizia, e só ouço os que dizem que dizia... Ouvi calar a voz que falava a mim, a nós, a todos. Disparou perdido a um alguém que tanto se encontrou!
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