sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Quase manhã


Sentia muito, sabia que sentia. Um enlace de raiva, culpa, medo e, talvez, rancor. Sentia muitíssimo pelo telefone que não atendeu, a mensagem que não respondeu, a vontade que não sentiu. Ana sentia muitíssimo por tudo isso e sentia mais por saber que era cedo, tão cedo para as brigas em silêncio, para a raiva tanta que um olhar nos olhos fulminava, era cedo demais para começar e para terminar.

                Não queria saber como se nadava em um mar profundo, não queria se levantar da cadeira e desmoronar com o comodismo. Queria um filme que a tirasse de si e levasse pra longe, um tele transporte, uma máquina, um mecanismo, um talvez. Queria Pasárgada, de Manuel Bandeira, os amores de Vinícius de Moraes, a capacidade de Capitu, de Machado de Assis, a imagem presa a algum espelho, como Cecília Meirelles.

                Não tinha saída, tinha alguns livros na cabeceira, e era neles onde se perdia, se encontrava, se emaranhava de amor e ódio. Era cedo, sabia Ana. Cedo pra dizer se fica ou se passa, se brinca ou se estuda, se guarda o dinheiro e não compra o doce ou se compra o doce e não guarda o dinheiro. Era cedo demais pra ser gente grande!

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