Sentia muito, sabia que sentia. Um
enlace de raiva, culpa, medo e, talvez, rancor. Sentia muitíssimo pelo telefone
que não atendeu, a mensagem que não respondeu, a vontade que não sentiu. Ana
sentia muitíssimo por tudo isso e sentia mais por saber que era cedo, tão cedo
para as brigas em silêncio, para a raiva tanta que um olhar nos olhos fulminava,
era cedo demais para começar e para terminar.
Não
queria saber como se nadava em um mar profundo, não queria se levantar da
cadeira e desmoronar com o comodismo. Queria um filme que a tirasse de si e
levasse pra longe, um tele transporte, uma máquina, um mecanismo, um talvez.
Queria Pasárgada, de Manuel Bandeira, os amores de Vinícius de Moraes, a capacidade
de Capitu, de Machado de Assis, a imagem presa a algum espelho, como Cecília
Meirelles.
Não
tinha saída, tinha alguns livros na cabeceira, e era neles onde se perdia, se
encontrava, se emaranhava de amor e ódio. Era cedo, sabia Ana. Cedo pra dizer
se fica ou se passa, se brinca ou se estuda, se guarda o dinheiro e não compra
o doce ou se compra o doce e não guarda o dinheiro. Era cedo demais pra ser
gente grande!
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