terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Pela janela

Era vasto,
era bonito,
mas mal sabia das tempestades 
que inundavam ruas,
amedrontavam expectativas
e trovejavam em sonhos. 

Iria durar, 
talvez para sempre,
se preso à retina de olhos com memória longa,
se preso a coração insistente de tanto bater,
se preso em dedos que tocam sem nunca se esconder!

Era isso:
tão subjetivo que quase não era nada,
era os dias presos em uma estrada que nunca cessa de chegar,
era a viagem que vinha e retomava,
com medo, retornava,
mas se ia calmo e além, sabendo a quem estaria na outra ponta. 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Quase manhã


Sentia muito, sabia que sentia. Um enlace de raiva, culpa, medo e, talvez, rancor. Sentia muitíssimo pelo telefone que não atendeu, a mensagem que não respondeu, a vontade que não sentiu. Ana sentia muitíssimo por tudo isso e sentia mais por saber que era cedo, tão cedo para as brigas em silêncio, para a raiva tanta que um olhar nos olhos fulminava, era cedo demais para começar e para terminar.

                Não queria saber como se nadava em um mar profundo, não queria se levantar da cadeira e desmoronar com o comodismo. Queria um filme que a tirasse de si e levasse pra longe, um tele transporte, uma máquina, um mecanismo, um talvez. Queria Pasárgada, de Manuel Bandeira, os amores de Vinícius de Moraes, a capacidade de Capitu, de Machado de Assis, a imagem presa a algum espelho, como Cecília Meirelles.

                Não tinha saída, tinha alguns livros na cabeceira, e era neles onde se perdia, se encontrava, se emaranhava de amor e ódio. Era cedo, sabia Ana. Cedo pra dizer se fica ou se passa, se brinca ou se estuda, se guarda o dinheiro e não compra o doce ou se compra o doce e não guarda o dinheiro. Era cedo demais pra ser gente grande!