Chove. Não que a chuva faça de mim, um alguém mais emotivo e
saudosista. Só listo que chove, porque, sou só eu, minhas lembranças e um
barulho delicioso que compenetra meus ouvidos, e me deixa tranquila para sermos
apenas nós três.
A chuva, que aos poucos vai aumentando e embalando um ritmo,
me deixa a vontade para retratar um fato que me ocorreu quando eu ainda era
muito criança. Meu tio ainda era solteiro, morava com meus avôs, e, sem sombra
de dúvidas, era o meu porto seguro (não que eu precisasse ser segura de alguma
coisa, talvez só de mim mesma). Enfim, em um desses dias que a gente vai
visitar a vó, lembro-me de um sorriso esboçado pelo meu tio, que me pegou pelo
braço, naquela tarde, e me disse: “Camila, vou te mostrar as estrelas”. Eu, sem
entender, e logo sem também enxergar, já que ele tampou com só uma mão os meus
olhos, me levando para o quarto em que ele dormia, e ali, quando me deixou
enxergar, as luzes apagadas, a janela fechada, que faziam um quarto mais
escuro, só pude ver um brilho que vinha de alguns colantes, em de forma
estrelas e lua, no guarda roupa.
Confesso, me encantei! Talvez com o brilho que os colantes
refletiam, talvez com as estrelas que eu me tinha tão perto. Mas, acredito, que
o meu maior encanto foi com o encanto que ele teve de me mostrar a sua
constelação particular!
Hoje, ele é casado, tem filhos e talvez não tenha mais tempo
para seus sobrinhos, para as estrelas e nem para os desenhos animados. E eu, já
não sou mais tão criança, já não moro mais com meus pais, não o chamo mais de “tio”
e, talvez, eu nem tenha mais tempo de observar o céu. Mas, de tudo, a certeza de que, assim como
ele, naquele momento, encantava a uma criança com algo bonito, a minha alma se
sente tão menina por ainda me encantar com as coisas singelas e brilhantes.