quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Edifico-me

Meus olhos, aflorados em vermelhidão, observam o cair da noite. Outrora, quando minhas mãos rasbicavam palavras aleatórias, era ainda dia: já anoiteceu. Vi o céu escurecer e a lua se embebedar de brilho. A agonia me toma conta de forma acolhedora, como um braço que se estende, me puxando ao peito para me encostar. Já encostada, retenho-me na metáfora, e perco a paixão nas coisas... Essa lua brilhante, não contém luz própria. A teoria mescla a minha angústia, e tudo junto não me fazem ser nada!

E se me perco em pensamentos e em quase acertos, é porque busco em mim o que pudesse ser bom ao outro; mas quando o outro se perde em si com os olhos cinzentos, cegos de um não querer ver, se torna tudo inviável. E se o fim for o certo, ou se ao certo será o fim: quantas angústias se poderão chorar? Se poderão reter? Se poderão amar? Se nem mesmo o amor se basta; e se sem o amor não há nada - nem o começo, nem o fim.

Desmorona, enfim, o meu castelo de cartas, que construi com o cuidado de sê-lo alto, bonito, mas na ilusão de que, também, se firmaria. O vento falou por todos; em deslizes reteve as cartas, colocou-as na caixa, pôs no bolso, e foi-se embora.

Posso eu reconstruir o meu castelo?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Angústia

Aqui de cima vejo pessoas pequenas, com sentimentos pequenos, retidos em si. A correria e a calma; a tristeza, a alegria e a indiferença; o desamor, o amor, o que pensam ser amor; o medo, a coragem, a autodestruição. Aqui de cima, eu vejo, quase vejo, pressuponho, subentendo, imagino, invento, reinvento, me iludo. Aqui, o azul é distante, e quase totalmente repleto, se não fosse o opaco dos prédios.

O que outrora foi euforia, durante a separação do “outra” e do “hora”, no agora, essa euforia foi se afinando intensamente até voltar a ser angústia. Não se sabe de que, de quando, de onde, de por que. Sabe-se que existe, pulsa, realça em cores vivas, intensas, que sobressai pela pele, pelos gestos, pelo toque. Sabe que penetra intensamente ao outro, como miados de gatos recém-nascidos, que imploram por comida.