quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

De solidão

Perdeu uma parte de si, como se fosse à essência do ser, mas, nem ao menos sabia que parte a fazia menor e inferior ao seu próprio espírito de graça, desgraça. Sabia que antes tinha a alma entrelaçada aos dedos, aos medos, a solidão... Hoje não tinha alma, nem entrelaço da angustia e imensidão.

O outrora e o depois como balança medindo o hoje. O outrora, fazendo hora para aquilo que um dia virá a ser, no próprio ser. Um ser de será, ou de permanecer... Entre encontros, reencontros e desencontros de um tempo, espaço e sonhos.

Aquela, de cabeça baixa, encostada na cômoda do quarto, olhando, pela janela estreita e entreaberta, uma luz fraca, mas ainda viva, de um sol das seis horas da tarde; era Ana. Olhava angustiada e sentia todo o peso de si sobre si, e então pôde perceber que cada mundo tem o seu peso e sua medida.

A angustia corroia as veias e corria o sangue. A solidão repleta de si fazia presença na ausência de quem um dia já não se sabia se... Não se sabia se era verdade, se era pesadelo, se era passado, se tinha passado pelo pretérito do não esquecimento. Não se sabia se tinha nos braços as marcas que a vida deixa e leva, e não se sabia se a vida tinha levado.

Ana era a incerteza, de uma inconstância tão profunda que variava entre vida e morte em um mesmo plano de fundo. Refugiada em si, e naquele momento vendo o sol partir, sentia que precisava partir também.

Parecia que sua vida agora, era só um feixe de luz, e que aos poucos se continha na evasão do ser, do não permanecer. O silêncio fazia um eco, fazia casa, fazia vida... E da solidão toda contida nos traços, nos gestos, no espaço e na permanência; Ana suspirou por mais uma única vez, fechou os olhos e se entregou a solidão.

Um comentário:

Rachel Flegler disse...

O solo de Ana passou a ser a própria alma, seu encosto; Sua predestinação, talvez momentânea, impregna os segundos que se vive, e o que se vive, já está sentido pelo que já se foi: penoso. É incômodo se encostar na inércia, vendo a luz que parte, em movimento, a luz que parte em quando, em pernas vagarosas; já Ana, nem a esmo. No entanto, tudo ficou mais lento, e triste na penumbra do pós-suspiro.

Gostei muito, de tudo!
"De solidão" descreve o que nos resta por vezes. Tem dias que a gente aceita, é até bom.

Um beijo moça.