Decidi, assim por acaso, que não quero minha lucidez todo o momento. Quero perder minha lucidez nos dias de guerra; nas manhãs chuvosas e atarefadas; nas noites de solidão; nas tardes de domingo; nas madrugadas de insônia; nos dias de dor; nos tempos de tristeza profunda e alegria breve.
Não quero minha lucidez quando eu descobrir que a vida só será essa página por preencher, e todo o tempo que eu perdi enquanto chorava por algo que, hoje, não me lembro mais.
Não quero minha consciência quando eu descobrir que tudo o que eu fiz foi inútil, e que cada ato racional quanto aos meus sentimentos, apenas me evitou quedas, que em um futuro próximo, me aguardava ansiosamente.
Quero minha inconsciência quando eu estiver beirando a morte, e souber que tudo o que vivi e fiz foi inútil, e foi inútil minha inútil poesia, e foi inútil a minha inútil vida... E que tudo fiz e sonhei, minhas verdades e ideologias, minhas estórias e histórias, e meus medos e derrotas, e meus sonhos e vitórias, e meus tempos, e meus tempos e meus tempos, foi tudo inútil.
Não quero morrer lúcida. Quero a ilucidez de quem não sabe o que houve ontem, mas que sabe que não haverá amanhã. Quero morrer inconsciente do s meus medos e solidão.