Eu posso até me lembrar dos tempos; em tempos de radiante luz me compartilhava a claridão. Hoje sou apenas eu no vácuo de uma imensa escuridão... Perceber que a luz vai se tornando opaca e insossa não a faz menos dolorosa no seu fim. E mesmo que não seja um fim, e apenas pareça um; a dor é exatamente a mesma de uma perda... É como perder um pedaço de você, tão essencial quanto as pernas, pois esse pedaço também te fazia seguir; tão essencial quanto os braços, pois esse pedaço também te fazia lutar; tão essencial quanto os olhos, pois esse pedaço também te fazia olhar; tão essencial quanto a boca, pois esse pedaço também te ajudava a engolir o mundo.
Posso ainda ter em mim leves sonhos como de um dia ter em meus braços um leve abraço que me permita dizer o quanto amei, e que amarei mesmo que seja só o princípio ou definitivamente o fim; e amarei mesmo que a chuva que molha lá fora, molhe aqui dentro e molhe a mim; amarei nas lembranças o fato que foi e ainda vai ser; porque mesmo se o fim for agora, eu ainda tenho muito o que conhecer!
Não posso abandonar promessas no vácuo, nem permitir que a dor pulse em mim. Mesmo que os sonhos sejam algo passado, sei que ao menos de longe posso admirar o que foi tudo pra mim!
Não quero nunca dizer o Adeus que faça partir; Não quero mesmo a dor que me deixe cair. E se tudo o que eu senti foi vão, e se tudo o que sei que realmente existiu foi inútil; a minha inutilidade absorverá, porque sei que um dia eu fui feliz.
Quem escolhe viver de riscos? Viver de talvez?
A incerteza não é o fato consumado, é o talvez consume, talvez não. A incerteza é a dor que toma, que te leva, que te faz sonhar... E depois dos sonhos, a realidade é tão dura quanto a gravidade que te puxa ao chão!
Só queria ao menos andar sobre o chão e não sentir a escassez de sonhos!